Blog

Seria possível uma vacina Covid-19, Sars, Mers e resfriado?

Seria possível uma vacina Covid-19, Sars, Mers e resfriado?

Seria possível criar uma vacina contra Covid-19, Sars, Mers e resfriado?

Professora de bioquímica da Universidade de Manchester analisa riscos e possibilidades de um único imunizante contra diferentes tipos de coronavírus

Seria possível criar uma vacina contra Covid-19, Sars, Mers e resfriado?
Seria possível criar uma vacina contra Covid-19, Sars, Mers e resfriado?

O sars-CoV-2 — o vírus que causa a Covid-19 — pertence à família dos betacoronavírus, que causam de um resfriado comum à Mers (que mata cerca de uma em cada três pessoas infectadas). Apesar de gerarem uma grande variedade de sintomas, todos esses vírus compartilham similaridades. Se eles são parecidos o suficiente, uma única vacina poderia prevenir infecções por todos eles? Cientistas certamente têm considerado isso.

Antes de explorarmos essa questão, porém, primeiro precisamos fazer um desvio para a fascinante anatomia dos betacoronavírus. Eles são bolas microscópicas cobertas de espinhos [as chamadas proteínas spike] que encapsulam um núcleo central de material genético. O vírus tem que infectar células para se replicar, e para isso ele precisa primeiro se conectar às células.

Betacoronavírus usam seus espinhos para se prender às células, agarrando-se a alvos específicos chamados receptores. Cientistas de países incluindo os Estados Unidos e a França examinaram esses espinhos e descobriram que eles são feitos de duas peças, ou “domínios”, apelidados de S1 e S2.

Esses domínios dos espinhos ajudam o vírus a se anexar a células de diferentes maneiras. Por exemplo, os vírus que causam Covid-19 e Sars ambos usam uma parte do domínio S1 chamada de domínio ligante do receptor (RBD) para se prender ao receptor da célula hospedeira (ACE2). Mas os vírus que causam resfriados não.

Semelhanças na estrutura de vírus são importantes porque ajudam a confundir nosso sistema imunológico ao responder e combater diferentes tipos de vírus parecidos. Isso acontece porque domínios parecidos terão características parecidas que podem ser detectadas pelos nossos anticorpos.

Anticorpos são feitos por células brancas sanguíneas especializadas chamadas de células B. Elas têm muitas funções em infecções, como ajudar outras células brancas a detectar e matar vírus ou infectar viralmente outras células. Anticorpos também podem impedir vírus de entrarem nas células ao bloquear os receptores celulares, como o ACE2 no caso da Covid-19.

No entanto, por mais poderosos que sejam, anticorpos levam tempo para ser produzidos — pode demorar de sete a dez dias para começar a produção de anticorpos protetores. Uma vez que as células B sabem quais anticorpos produzir, elas vão lembrar, e se encontrarem a mesma infecção novamente, podem reagir quase instantaneamente e produzir ainda mais anticorpos do que antes. Esse recurso é conhecido como memória imunológica.

Vacinas funcionam ao tentar criar memória imunológica fornecendo características do vírus que vão acionar a produção natural de anticorpos sem a necessidade de uma infecção completa. Sendo assim, semelhanças estruturais entre os betacoronavírus poderiam ser usadas para produzir vacinas geradoras de anticorpos que reconhecem diferentes vírus dessa família?

Reatividade cruzada
Para resolver esse quebra-cabeça, é necessário ver se os anticorpos podem reconhecer mais de um tipo de vírus, fenômeno conhecido como reatividade cruzada. Testes como esse mostraram que anticorpos para o RBD do domínio S1 na proteína spike que causa Sars apresentaram uma reatividade cruzada com o vírus da Covid-19.

Faça seu plano de Saúde agora

Não fique desprotegido